Apesar de serem limitadas e distribuídas conforme requisitos, às vezes, bastante específicos, as bolsas de estudo desempenham um papel importantíssimo na formação dos brasileiros que vêm de ambientes cheios de adversidades mas acabam realizando o sonho de ingressar no ensino superior. Há vários aspectos positivos em conceder bolsas de estudo, entre eles, oferecer oportunidades iguais para todos os estudantes que, apesar de estarem em desvantagem, desejam estudar. Significa que eles também podem ter uma chance de obter a educação que não teriam sem o benefício.
No Brasil, como já foi demonstrado inúmeras vezes, as universidades públicas são ocupadas, majoritariamente, por estudantes de alto poder aquisitivo, enquanto os jovens com menor renda se voltam para as universidades particulares, isto é, quando conseguem obter algum financiamento do governo ou da própria instituição de ensino. O valor médio da mensalidade dos cursos presenciais ficou em torno de R$1.000, após o aumento de 2,4% entre 2017 e 2018, o que, por si só, justificaria a necessidade de algum modelo de financiamento, seja público ou privado.
Os dados do Mapa do Ensino Superior, produzido pelo Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado), mostram o seguinte:
O total de alunos que ingressaram nas IES privadas com o Fies caiu de 9,3%, em 2012, para 7,2% em 2016.
Já o total de alunos que ingressaram com bolsas de crédito próprio das IES saltou de 14%, em 2012, para 23,5% em 2016.
A conclusão é de que as restrições ao Fies resultaram no aumento de crédito próprio ofertado pelas IES particulares.
Como as bolsas de estudo contribuem com a democratização do ensino superior?
A mídia e setores da sociedade têm falado tanto em inclusão que isso se tornou pauta estratégica de muitas empresas para a captação de alunos. Por um lado, a IES projeta sua imagem como a de uma instituição preocupada com a democratização do ensino, do outro, estudantes pobres com desejo de se graduar têm a chance de frequentar as aulas da universidade e do curso que eles mesmos escolheram.
Há outros benefícios:
O crédito estudantil privado é uma maneira de oferecer acesso à educação, ainda que para um número limitado de jovens. Sem isso, são obrigados a escolher entre trabalhar e estudar ou fazer as duas coisas. Neste caso, correm o risco de não se graduarem ou de se formarem com notas abaixo do que poderiam se tivessem mais tempo para estudar. Por não conseguirem concluir o ensino médio e ingressarem no superior, milhões de jovens acabam caindo nas estatísticas do “nem nem”.
Quantos de nós já não soubemos de casos em que estudantes excepcionais em matemática, ciências ou artes tiveram de abandonar os estudos porque não tinham condições financeiras de mantê-los? É de se lamentar. Dar condições para que prossigam os estudos é permitir que esses estudantes brilhantes persigam suas próprias ambições e formem-se cidadãos preparados profissionalmente e pessoalmente.
O exemplo de alunos bolsistas que conseguiram ingressar na faculdade motiva os familiares e os amigos a iniciarem ou darem continuidade aos estudos. Além de a graduação ser exigida para muitas profissões, há o fato de que pessoas que concluíram a graduação no ensino superior têm salário maior do quem não concluiu a faculdade.
O crédito estudantil privado não exige reembolso, isso significa que o aluno recém-formado pode iniciar sua vida profissional sem dívidas. Para a IES, isso vale mais a pena do que cobrar o valor integral da mensalidade mas receber o pagamento com atraso ou nem sequer recebê-lo. Vale lembrar que, no ano passado, a inadimplência no setor da educação privada foi maior do que entre as pessoas físicas. A diferença foi de 8,93% contra 5,25%.
Se o gestor decidir que a IES tem condições de oferecer bolsas de estudo, é importante responder a algumas perguntas com relação ao público-alvo. Quem é seu público-alvo? Você vai destinar a bolsa apenas para os bons alunos? Apenas para estudantes de um curso específico? O aluno deve estar no primeiro período, último ou isso não importa? O benefício deverá ser destinado somente aos estudantes que vêm de outras cidades? Pense bem e faça uma lista que inclua todos os critérios.
Conclusão
Evidentemente, é muito arriscado para a escola começar a oferecer bolsas de estudo sem nenhum estudo prévio. Para que não seja prejudicada a médio e longo prazos, a IES precisa ter uma gestão financeira muito organizada, com todos os dados sobre custos e despesas atualizados.
Outro ponto importante é que apenas a bolsa de estudo não cobre todas as despesas como xerox, transporte, alimentação e, às vezes, moradia. É possível ajudar de outras maneiras. Dependendo do background dos alunos, a instituição de ensino pode pensar na viabilidade de um programa de apoio a estudantes de baixa renda que vieram do ensino médio deficiente, oferecendo reforço das aulas ou serviço de orientação. Esse suporte contribui para que o aluno não desista do curso por não conseguir acompanhar o ritmo da educação superior.
Em geral, é pelas bolsas de estudo que os alunos sem recursos financeiros podem realizar o desejo de fazer parte do seleto grupo que adentra as universidades, sem terem de pagar empréstimos ou abandonarem o curso no meio do caminho. Para refletir: até aqui, os programas de concessão de bolsas para estudantes de baixa renda contribuem para o acesso ao ensino superior na medida em que a mensalidade pode deixar de ser um obstáculo.
Mas em breve vamos ter de lidar com a realidade de que o grande desafio, em vez de acesso ao ensino superior, será manter a qualidade da educação privada. Leia aqui sobre vantagens lucrativas para a IES que investe em oferta de bolsas de estudos. Não deixe de assinar nossa newsletter para receber artigos sobre captação e outros assuntos.